RELATOS DA OFICINA DE ROTEIRO

Chegamos enfim à escrita do roteiro! Após a etapa de sensibilização crítica, adentramos ao universo do roteiro técnico propriamente. Começamos a tarefa escrevendo a linha da história do capítulo 1 e logo após nos debruçamos no desenvolvimento das cenas. Nos deparamos com a dificuldade dos participantes em escrever em casa e isto deu mais lentidão ao processo, além das faltas alternadas dos mesmos. Eles também apresentam dificuldade na escrita, o que não é assustador, já que sabemos que a lógica do ensino no Brasil ainda funda-se no V ou F. Mas estamos superando esta realidade aos poucos, através do trabalho coletivo nos encontros.

Agora estamos trabalhando com mais afinco a noção partes/ todo do roteiro, já que sentimos uma maior dificuldade dos participantes nesse sentido e estamos lapidando o pré-roteiro de forma que tenhamos uma noção de início, meio e fim do capítulo, noção que norteará a confecção dos demais capítulos. No primeiro momento tentamos começar a escrita do roteiro pela noção de todo, mas logo mudamos estratégia, já que obtivemos mais resultados pela criação livre de cenas a partir de temas que elencamos tendo como fonte motriz a realidade escolar e as discussões da fase de sensibilização crítica.

Nesse sentido, um dos nossos desafios é fazer com que todas/os tenham noção geral de todas as partes da história e suas transições. Esta noção facilitaria dividir o trabalho de escrever cada cena. Como acreditamos no conceito de que os oficinandos devem ter propriedade sobre a criação, e como são um tanto quanto dispersos ao abordar o universo criativo, por vezes perdendo o foco do objetivo que é o de se fazer um roteiro para videonovela, esta apropriação também é lenta e atrasa os resultados.

Assistimos o filme Fale com Ela do Almodóvar para suscitar a discussão sobre o título da videonovela, para trabalhar a noção de metáfora e ainda engrossar o caldo da discussão sobre a complexidade dos personagens, já que a concepção maniqueísta sobre os mesmos ainda é forte. No filme, um dos protagonistas (o fisioterapeuta) é tido como psicopata pois violenta sexualmente sua paciente em coma e a engravida. Eu (Lorena) achei interessante como ficaram revoltados – a Luciana chegou a chorar – pelo fim deste (prisão e suicídio). Esse exercício foi importante para que percebessem que a complexidade dos personagens envolve a presença de contradições. A Luciana ficou tão envolvida com a mágica do Almodóvar que só se convenceu que o fisioterapeuta era um psicopata quando eu pedi que ela se colocasse no lugar da menina em coma.

Diante do nosso cronograma e do calendário, passaremos a fechar o primeiro capítulo com suas transições e, juntamente com o desenvolvimento das sistuações já criadas, desenvolver outras novas. A construção das transições serão precedidas pela exibição de algumas cenas de O Sangue de Poeta do Jean Cocteau, filme de realidade fantástica que nos possibilita uma referência sobre o uso poético dos espelhos.

Oficineiros: Lorena Carmo e Eládio Teles