RELATOS DA OFICINA DE ROTEIRO
Agora estamos trabalhando com mais afinco a noção partes/ todo do roteiro, já que sentimos uma maior dificuldade dos participantes nesse sentido e estamos lapidando o pré-roteiro de forma que tenhamos uma noção de início, meio e fim do capítulo, noção que norteará a confecção dos demais capítulos. No primeiro momento tentamos começar a escrita do roteiro pela noção de todo, mas logo mudamos estratégia, já que obtivemos mais resultados pela criação livre de cenas a partir de temas que elencamos tendo como fonte motriz a realidade escolar e as discussões da fase de sensibilização crítica.
Nesse sentido, um dos nossos desafios é fazer com que todas/os tenham noção geral de todas as partes da história e suas transições. Esta noção facilitaria dividir o trabalho de escrever cada cena. Como acreditamos no conceito de que os oficinandos devem ter propriedade sobre a criação, e como são um tanto quanto dispersos ao abordar o universo criativo, por vezes perdendo o foco do objetivo que é o de se fazer um roteiro para videonovela, esta apropriação também é lenta e atrasa os resultados.
Assistimos o filme Fale com Ela do Almodóvar para suscitar a discussão sobre o título da videonovela, para trabalhar a noção de metáfora e ainda engrossar o caldo da discussão sobre a complexidade dos personagens, já que a concepção maniqueísta sobre os mesmos ainda é forte. No filme, um dos protagonistas (o fisioterapeuta) é tido como psicopata pois violenta sexualmente sua paciente em coma e a engravida. Eu (Lorena) achei interessante como ficaram revoltados – a Luciana chegou a chorar – pelo fim deste (prisão e suicídio). Esse exercício foi importante para que percebessem que a complexidade dos personagens envolve a presença de contradições. A Luciana ficou tão envolvida com a mágica do Almodóvar que só se convenceu que o fisioterapeuta era um psicopata quando eu pedi que ela se colocasse no lugar da menina em coma.
Diante do nosso cronograma e do calendário, passaremos a fechar o primeiro capítulo com suas transições e, juntamente com o desenvolvimento das sistuações já criadas, desenvolver outras novas. A construção das transições serão precedidas pela exibição de algumas cenas de O Sangue de Poeta do Jean Cocteau, filme de realidade fantástica que nos possibilita uma referência sobre o uso poético dos espelhos.
Oficineiros: Lorena Carmo e Eládio Teles
Sim Lorena,
Aquele filme foi uma sacanagem pra mim,EU ADOREI, não acredito até hoje, que eu chorei porque o estuprador morreu…
nunca fui tão enganada, e o pior que eu sabia que ele era o estuprador, o meu lado romântico e sentimentalista reinou de forma inadequada e anti-social..
anti-social tenho que tomar vergonha na cara…
foi bom pra mim aprender..
a intenção maior da discussão foi desconstruir o esteriótipo de mocinho X bandido das novelas. ninguém é só maldade ou só bondade. as pessoas são bem mais complexas… e o almodovar sabe muito bem construir personagens complexos, que fazem a gente pensar, não nos dá de bandeja um rótulo fechado "mocinho", "bandido", "perfeito", "monstro". e, por isto, eu te digo: não há nenhum problema em vc ter chorado pelo personagem. porque ele te envolveu, te sensibilizou. o almodovar mostrou o lado humano de um criminoso, talvez um doente… se o jornal estampasse a notícia: mulher em coma engravida de seu enfermeiro, todos nós ficaríamos revoltadas, chamando-o de monstro. mas vem a arte, neste caso o almodovar, e nos mostra o lado romântico, o lado humano desse cara e a gente se sensibiliza com ele… olha o poder envolvente do cinema, de um diretor bom! o jornal nos mostra um lado dos acontecimentos. mas a realidade tem vários "lados", o ser humano é complexo, multifacetado…